22/09/2018

Esquecido no Word. 03/08/18





"Quanto tempo. Outra vez. Igual sempre.

São duas da manhã e estou tendo um lindo dia de cólica. É uma sensação esquisita ser grata por menstruar e ao mesmo tempo sofrer e querer chutar paredes por isso.
Sei lá, acho que isso significa que atingi minha maturidade em termos de ser menstruante. O que é uma bela bosta. Significa simplesmente que agora tenho que me preocupar com a possibilidade de ter tecido vivo a parte de mim (e ainda assim, dentro de mim).
Isso é algo que eu preciso digerir ainda. Não sei bem o que eu acho sobre sexo. Por enquanto não cheguei a um estado de reflexão sobre isso que me norteie em relação a preferências.
Acho que gosto mais do ato no plano das idéias. Me parece bem mais legal do que é. Enfim, isso fica pra outro dia.
Faltam exatamente cinco semanas pra eu voltar pra casa. Meu Deus, como eu tenho esperado esse momento!
Estou terminando o curso, terminando minha jornada torturante de convivência com o bando de gente nojenta com quem me desiludi, finalmente.
Não cheguei a comentar aqui nem 2% do show de horrores que se passou nesse período canadense da minha vida. Dava pra escrever uma série, porque olha, é tanto absurdo que é difícil imaginar que aconteça no dia a dia.
Mas estou bem, apesar de tudo. Muitíssimo melhor que dois meses atrás.
Um amigo meu da Holanda (o Thomas) teve um surto e  o Canada simplesmente o traumatizou mais ainda com seus procedimentos absurdos na conduta do sistema de saúde.
Eu falo que a saúde daqui é uma bosta. A cada dia novas provas.
Tendo esse caso tão triste do meu querido Thomas tão próximo, minha vida está em perspectiva, creio.
Meu amigo Guilherme (o brasileiro que trabalha como animador aqui e quer por tudo na vida que eu fique no Canadá) está tão empenhado em me ajudar a ficar aqui que está até falando com o povo com quem já trabalhou pra que eles me contratem se acharem que tenho potencial.
É um paradoxo, porque todos os segundos da minha existência nesse lugar ressoam o quanto quero voltar pro Brasil, mas quando encontro com ele, o entusiasmo e verdade com que ele se preocupa e genuinamente quer o melhor pra mim (que seria ficar aqui, pra ele) faz com que minha alma se divida e fique um pouco nublada nessa questão.
Nublada a ponto de enquanto estou com ele eu sentir vontade de ficar e ver as coisas dando certo aqui. Me ver dando certo aqui. Mas no momento em que saio dessa bolha volta todo meu desespero em estar longe de casa. Longe da minha família, amigos... Longe dos meus avós.
Eles são a principal razão pela qual quero e preciso voltar.
Nem sei se falei aqui disso... É algo que pesa tanto no coração da minha família, martela todos os dias minha cabeça.
Minha avó foi diagnosticada com Alzheimer há mais ou menos um ano. Já tínhamos notado sinais dois anos antes disso, mas ela se recusava a realizar os exames e consultar o neurologista.
Agora não é uma fase aguda, mas é nítido como ela mudou e como a memória dela está comprometida. Isso me dá tanto desespero. Sequer consigo pensar muito tempo no assunto.
Preciso voltar pra ela. Pro meu avô, que tem que carregar essa dor no coração a cada segundo do dia junto dela. Não agüento o fato de estar perdendo preciosos segundos de consciência da vida deles. Isso me apavora demais.
Pois é, por isso minha alma clama voltar pro meu país. Mesmo que a política esteja em chamas, o mercado de trabalho uma piada, nada importa mais do que eles.
Vou me submeter ao que for, mas não vou me arrepender nunca de não ter vivido ao lado dos meus dois maravilhosos velhinhos. Sei que nunca me perdoaria se não o fizesse.
É duro, deixar uma chance brilhante pra trás e seguir rumo a uma grande possibilidade de mediocridade, mas faço de bom grado.
Não vejo a hora de voltar pra casa."

03/08/18

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