05/07/2025

Sigo esperando por dias mais gentis


Eu sei o nome da pessoa que faz esse projeto foto/biografico, mas no pinterest só tinha a imagem sem créditos, pra variar, então por enquanto vai ficar assim até eu ter tempo e energia pra colocar aqui. Vai rolar, espero.

Olha, não tá fácil não. Um claro sinal é essa postagem, a primeira do ano, em julho. Seria ótimo se fosse devido a uma correria de dias felizes, muita coisa pra ver e fazer e ops, nem lembro de postar pra falar de todas essas coisas legais. Ai ai. 
Não posso dizer que tá tudo horrível, mas a balança tá bem pendendo pra dureza.

Eu me mudei da casa da minha mãe em abril, depois de passar o que achei que seriam todos os perrengues possíveis, mas cá estou, em julho sem conseguir pensar em fazer um chá de casa nova, porque o apartamento segue incompleto. Móvel por montar, quadros por pendurar, tem móvel até faltando pedaço, realmente incrível o que é a vida adulta. 

Apesar das faltas, e das coisas que fazem meu apartamento um inferno as vezes, é gostoso estar aqui. Olhar pras coisas que escolhi, criar as minhas rotinas e ter tudo exatamente no lugar que eu acho que deveriam estar é bem gostoso. Ainda é difícil ter hábitos de auto-cuidado incorporados com naturalidade,  mas não é o fim do mundo.

Um dos motivos que me fez demorar bastante pra mudar, além dos atrasos práticos de obras e afins, foi o Biscoito. E bem, o Biscoito tem sido muito tudo que existe de dor e aflição na minha vida desde março.

Depois de um carnaval indo e vindo do veterinário e muitos muitos exames, e crises de ansiedade porque ele não queria comer, e não parava de emagrecer, e tudo parecia o fim do mundo (e era mesmo); o Biscoito foi diagnosticado com hipertiroidismo, inflamação gastrointestinal crônica e doença renal em estágio 2 de 4. Assim, tudo de uma vez.

A partir daí comecei uma odisseia de exames semanais, períodos de idas dia sim dia não ao vet, e mais crises de ansiedade, dinheiro indo embora, meu apartamento esperando, minha vida esperando.

Quando ele pareceu estabilizar um pouco, nos mudamos. A inundação de obrigações e incertezas seguiu, mas por um mês ele pareceu melhorar, isto é, travar o avanço da doença renal e do hipertiroidismo - com 3 medicações por dia - minha vida é secundária num regime de 8h em 8h horas de medicação.

Daí acabou esse mês de respiro. E vamos de mal a pior mesmo. Meu trabalho um inferno, meu gato vomitando semanalmente e os indíces dele piorando semana a semana. Ele foi em pouco menos de 30 dias do estágio 2 para o 3 da doença renal − que encurta a expectativa de vida para "meses, ou até 2 anos" − e sem nenhuma perspectiva. 

Eu já sabia que a doença renal era apenas uma piora continua, mas não tinha entendido a princípio o quão rápido isso seria. Achei que seriam anos, não dias, pro meu gato passar de "estágio moderado" pra paliativo, e com desconforto, com idas ao veterinário sem fim e nenhuma solução. "Ao que tudo indica os sintomas são por conta do rim." E acabou, não tem o que fazer. É daqui pra pior. Se vira aí. Um "sinto muito" não dito. "Seu gato tá morrendo" não dito também.

 É uma merda. Já perdi a conta de quantas vezes já expliquei o caso do Biscoito pras pessoas. Na maior parte do tempo não consigo nem construir frases sobre o quão desalentador é tudo isso. E tudo isso é o meu dia a dia, cada hora, cada hora da comida, ver como ele está, ver ele desconfortável, tentar ao máximo evitar voltar ao veterinário (que por sinal, vou hoje mais uma vez pra não sair de moda as consultas semanais de plantão)... Não posso dizer que é insuportável, pois sigo suportando. Mas é uma merda. 

E voltamos pra imagem de abertura. Não consigo deixar de pensar no quão horroroso foi ano passado enquanto eu cuidava do Cuca pra depois tudo desandar, e que agora estou há meses cuidando do Biscoito num cenário ainda pior, porque eu sei que é um cuidar vazio. Cuidar de conforto, não de cura. Sei lá.

Sei que é um privilégio nunca ter passado por esse tipo de situação com outros seres na família ou próximos, mas agora é minha vez e não sei se existe algo que tornaria as coisas menos difíceis. Cuidar em tempo integral de um ser que tá indo embora é uma das existências mais deprimentes e desconcertantes que tem, na moral. Não aguento mais, mas preciso aguentar, preciso me colocar pra fora de casa, com um gato que também não aguenta mais entrar no carro de gente estranha e passar frio e medo e estresse num período completo que só envolve atualizar um status que no fim das contas não presta. 
O que eu faço com isso? Como eu olho pra minha vida, e sei lá quantos dias mais dela estarão sequestrados por essa situação absurda, e penso de forma positiva? Como enxergar a ideia de futuro, ter metas, trabalhar, falar, socializar, me alimentar, não dá vontade de fazer nada. E eu faço ainda assim, mas é vazio e me esvazia. Camadas de tinta branca aplicadas sobre toda e qualquer perspectiva de progresso. 

Vai passar. É uma merda, porque vai passar quando ele for embora. Mas é isso. Vai passar. E eu vou ficar sem o sofrimento e sem o meu gato.

Sigo esperando por dias mais gentis.
 


Um comentário:

  1. Eu nem sei o que dizer, Camii. Essa é a coisa mais triste do mundo - e agora que tenho o Gugu essa dor da perda alcança níveis que nunca experienciei antes. O que me resta é te desejar não somente força (pois isso você já tem de sobra e tenho certeza de que você já não aguenta mais ser forte o tempo todo), mas paz. O Biscoito tem muita sorte de ter você. Pensa no tempo que vocês têm juntos, nas memórias que ainda podem criar. Fica bem, chuchu.

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