Passei tanto nervoso que não consigo nem fazer gracinha.
Avançei 5 casas na fila de elaboração de traumas. Resolvemos o que deu pra resolver. Eu e a Mara. Mas do meu lado, grande vitória de mim contra 26 anos de desistência ao sinal da primeira dificuldade.
Não foi gostoso, não tá tudo bem e ainda tô me sentindo instável pra caralho. Mas tá muito melhor.
Consegui ser uma pessoa um pouco mais decente e acompanhei minha vó até em partidas de Rummikub (lê-se rã-mi-cá-bi, na minha família pelo menos hahah).
Ontem na metade das horas de surto decidi que eu precisava sair amanhã pra respirar. Daí fiz minha tia prometer vir aqui passar o dia com a vovó. Ela não se comprometeu com horário, só "vou ver o que dá", mas já é melhor que nada. 🤡
Juro, a audácia das pessoas e o nível de irresponsabilidade emocional. Que inferno.
Enfim, tô indo e voltando do limite pra não chorar e ter mais uma crise de ansiedade, mas tô sobrevivendo. Não é mais raiva e nem vontade de jogar tudo no lixo. Já é melhor que nada.
O que é a vida senão uma grande piada que espera o tempo perfeito pra acontecer, não é mesmo? Hahahah
Rindo porque já surtei demais, ou porque estou surtando, eu sei lá.
Em uma sequência impressionante de 4 dias não completos, em que me senti com coragem o suficiente pra postar novamente, abordar o tema do meu novo relacionamento (agora velho? findado?), tanta coisa aconteceu que estou considerando a possibilidade até que bem concreta de que talvez tudo esteja só desmoronando de um jeito bem bizarro e caótico.
Juro, eu sinto que "caótico" tem sido a palavra perfeita pra descrever a minha vida nos últimos 2 meses. Queria estar brincando.
Bem, pelo menos eu voltei a escrever, então posso me apossar desse espaço pra vomitar todo desespero e ansiedade que tem me perturbado mais do que de costume nestas últimas 48h.
Semana passada eu tava de tpm. Tudo começou aí?? Mais ou menos, mas enfim. Na sexta-feira minha mãe levantou o tópico de eu estar namorando a Mara, assim, DO NADA. E com pouco tempo pra gente aprofundar a conversa, pois ela falou disso enquanto estava *atrasada* pra fisioterapia e eu estava completamente atolade de trabalho. O melhor momento, claramente.
Daí, ela foi embora pra fisio e eu desatei a ter uma crise de choro e desespero porque eu ainda tenho muito medo de ser rejeitade, ou de ter algo que amo rejeitado pela minha mãe. E por isso eu não tinha contado pra ela sobre a Mara, mas é claro que ela já sabia. Eu sabia que ela sabia, mas nossa puta hora de trazer a informação.
Ok, essa dor foi superada, chorei bastante, o tempo passou e minha mãe não tocou mais no assunto.
Sábado desceu minha menstruação. 🤡
Daí entendi que grande parte da crise foi só a merda dos hormônios tirando uma com a minha cara, como já é praxe.
Sábado foi bem legal, fui com a minha mãe visitar o apartamento, decidi com o aval (e leve pressão positiva) da minha mãe que eu iria morar lá e já ia mandar mensagem pro corretor etc etc. Tudo isso enquanto eu animadamente falava com a Mara e obviamente já imaginando cada detalhe da minha nova vida no apê considerando a visita dela no ano que vem, nosso 1 mês juntes - o tão sonhado e esperado.
Domingo quase morri de tanta cólica, foi um dia difícil dos dois lados. Eu fisicamente incapacitade e ela num momento de desassociação e sobrecarga emocional não definida. Bem, passou e deu tudo certo. Ou era pra ter dado, k k.
Segunda minha avó tava passando mal, vomitando horrores, e aí meu tio e avô foram com ela pro hospital no meio-fim da noite. Eis que nada aparece nos exames dela e sim no do meu vô, que aproveitou também pra fazer checkup e aí descobriu que tava com níveis de sódio muito baixos. Com isso, meu avô teve que ficar internado e aí que tudo começou a vir abaixo.
Uma situação similar aconteceu há um tempo atrás, segundo meu tio há 2 anos. Naquele período meu avô ficou 5 dias internado e não lembro exatamente como aconteceu, mas acho que nos revezamos entre eu, minha mãe e meu tio pra ficar com a minha vó enquanto meu avô estava internado.
Dessa vez eu sabia o que ia acontecer. Terça de manhã já me organizei com a minha mãe pra que eu ficasse na casa dos meus avós fazendo companhia e ficando de olho na minha vó, enquanto minha mãe seguiria com a rotina dela, pois ainda está fazendo fisio+acupuntura (ela rompeu os ligamentos do pé faz 4 meses, longa história) e meu tio cobria pelo menos parte das visitas ao meu avô no hospital.
Acontece que dessa vez algumas variáveis não contabilizadas entraram em jogo.
Primeiro, tinha o fato de eu estar, como mencionei, com meus hormônios tirando uma com a minha cara. Segundo que terça já estava confirmado que seria um dia infernal no trabalho. Terceiro que era um dia cheio de consultas na clínica de cuidados de gênero pra Mara E ela tinha um encontro (PLATÔNICO, até onde eu sei) com um carinha nb que ela conheceu no bumble.
Tá bem, terça foi realmente infernal no trabalho, Mara teve um dia lotado de coisa e tinha sido ótimo com o tal carinha, e eu estava uma pilha de nervos, o que me fez mandar um áudio (ai ai, pra que) falando sobre como eu sentia sim um ciúmes do fato de ela estar conhecendo pessoas e ativamente buscando gente que podia fazer o que eu não posso, estando longe e que isso me deixa apreensive sobre a possibilidade de qualquer pessoa ser *A Pessoa* que ela vai querer mais do que eu e como isso vai mudar a relação, etc.
Uma ótima ideia, né? Eu sei.
E na real, até que foi uma boa ideia mesmo. Apesar da sensação de viver tudo isso esteja sendo desprezível, tudo que tá rolando é importante e era só uma questão de tempo até estourar. Só foi num momento mais merda do que o normal haha.
Elaborando um pouco mais sobre o que aconteceu depois do meu áudio: ela me respondeu da maneira mais inesperada possível, falando como se o problema maior relatado fosse o ciúmes e que era algo que a gente super podia trabalhar juntes, que ela também sentiria ciúmes quando algo similar acontecesse comigo, blá blá. Um papo, assim, como se estivessemos numa relação não-monogâmica, basicamente. Sendo que...lembra? Eu já tinha explicado pra ela que pra mim era vai ou racha, no momento que ela decidisse investir em algo romântico/sexual com outro alguém era pra me avisar porque o "nós" romântico acabaria no mesmo momento.
E quando expliquei de novo tudo isso pra ela foi como uma surpresa e ela pirou o cabeção.
É. 🤡
Tínhamos planejado uma ligação pras 7h da manhã hoje, pro que eu acordei ÀS SEIS, e literalmente quando acordei ela tinha acabado de descobrir que tinha sessão de terapia na hora da nossa ligação, então tivemos que cancelar e aí foi de mal a pior. Como se já não tivesse ruim hahahah.
Bom, eis que ela volta super desregulada da terapia, me avisou que tava bem mal, etc e que ia precisar desse tempo, etc. Eu queria muito ter dado esse espaço pra ela sem me corroer de ansiedade, queria mesmo. Mas não rolou. Quer dizer, até onde ela sabe o espaço foi dado, inclusive com muitas afirmações de carinho, reconforto e cuidado. Só que do lado de cá eu tava me sentindo um lixo, sem condições de cuidar da minha vó, sem trabalhar, sem nada.
No meio da tarde ela me manda um áudio de 18min explicando como o dia tinha sido difícil, como as consultas de ontem tiveram um impacto grandão na disforia dela (e real, muito triste) e claro que o meu audio e explicação (que ela não absorveu da primeira vez, que fique claro) sobre como existia um limite meu muito claro entre eu/outras relações que ela não sabia e precisava de mais contexto, porque era algo que a deixou muito confusa e se sentindo mal por não conseguir me dar o retorno de que "claro, vamos fazer do seu jeito".
Sinceramente, eu já tava tão mais pra lá do que pra cá que nem me afetou muito. Fiquei genuinamente com pena dela, fui uma pessoa compreensiva pra caralho, tá bem? Ontem foi um dia muito carregado pra ela, eu sabia disso. E do meu lado tá tudo carregado também, então foi um momento merda pra trazer a pauta, mas o gato tá fora do saco, a gente que se vire, foda-se.
E daí eu respondi em dois áudios enormes reconfortando ela sobre as questões extra-relacionamento, e também da nossa situação, como eu imaginava que devia fazer sentido inconscientemente pra ela querer vivenciar tudo com todas as pessoas possíveis que pudessem se apaixonar pela versão "real" dela, que eu sabia que isso também poderia pertencer a transição e experiência trans em geral, fui mó legal. Expliquei os pormenores do meu limite, que não era pra limitá-la de fazer amigos, conhecer gente, nem nada disso, só que a partir do momento que fizesse sentido pra ela avançar uma casa no relacionamento com alguém, seja um beijo, seja um afeto trocado com intenção, aí a gente ia ter que conversar.
Sabe, o básico? Fiz o melhor que pude, fiz do "o óbvio deve ser dito" meu mantra e tentei deixar o audio o mais leve possível.
Ainda mandei o segundo áudio só focando nas outras questões que ela relatou, que eram muito foda e, poxa, a menina precisava de um colo. E eu dei. E foi isso. Silêncio.
Até mandei boa noite, porque fiz questão de manter o ritual e ver se existia uma mísera chance de receber um colo pra mim.
Mas daí foi nada mesmo.
E cá estamos. Minha avó dormiu praticamente o dia todo, e por último acordou com a ideia fixa de ir visitar o meu avô. A ideia dela era péssima, porque tava super em cima da hora pro Marcelo ir visitar rapidinho só pra levar o que meu avô precisava, mas não deu outra, eles foram juntos. Nem sei se chegaram a tempo. Talvez tenham aberto uma exceção pra permitir o casal de velhinhos ter um momento de cuidado.
Acho que foi a melhor coisa que aconteceu hoje hahaha. Finalmente um tempo só, pra existir, pra sentir todo esse mar de desgosto e angústia e raiva e... de foda-se, agora.
"Sei lá, tô deixando rolar." Não foi o que eu disse antes? Pois está rolando.
P.s: minha nossa como Clarice Falcão consegue sempre ter as melhores músicas pra ressoar o meu coração todinho? Deus abençoe essa mulher grandemente. Caralho.
Como de costume, tenho falado bastante e pra várias pessoas sobre como eu sinto falta de escrever, como me faz bem, que é importante, que eu gosto, o de sempre. E, também como sempre, nada era feito a respeito.
Mas cá estamos, antes tarde que mais tarde. Antes desse ano maluco acabar. Antes de eu só engolir mais uma vez o bolo de coisa que tô sentindo preso na garganta e seguir com o dia.
Dessa vez é esquisito escrever, porque sinto um desconforto físico como se isso aqui fosse fora da lei, como se colocar o que eu to sentindo pra fora transgredisse um limite que me coloque em perigo. Talvez seja mesmo. Espero que meu inconsciente me deixando com dor de estômago ao escrever tome no cu e fique em perigo mesmo, pra aprender a me deixar elaborar as coisas pra elas irem embora. Que inferno.
Acho que parte do que me deixa com receio de escrever é que me sinto mal de querer falar que apesar de todas as coisas positivas e felizes e legais que rolaram em 2024 eu me sinto mal. Não sempre, não com tudo, mas me sinto com tanta ansiedade e tendo vivido muito do ano em um estado de alerta tão grande que o saldo final tá meio camuflado. Uma coisa pode ser apenas objetivamente boa? Ganhar uma pepita de ouro é só bom se ela vem atirada na sua cara? Sei lá, sinto que é meio isso que eu tô sentindo hahahah.
Ok, já me sinto confortável o suficiente pra parar de usar metáforas e dar volta no assunto.
Das várias coisas que aconteceram nos últimos tempos, os destaques foram os seguintes:
1. Desde o ano passado comecei a testar pronomes neutros e entendi que agora eles são os que melhor encaixam na minha vida. Nath, nem comentei contigo, mas confio que através do blog isso vai chegar em você, haha.
Ter mudado pra um emprego em que a maioria das pessoas se esforça pra respeitar meus pronomes é um grande ponto nessa mudança, não é perfeito, mas ajuda. Ainda assim, ainda tenho preguiça de conhecer mais gente e passar pela apresentação tripla da minha existência. Quem sabe no futuro eu me encha de coragem e naturalidade quanto a isso. Por hora seguimos no piloto automático.
2. Comecei a fazer aulas de espanhol. Uhuuu, grande progresso. Apesar de ser uma coisa que ainda me dá preguiça, tá me ajudando bastante a me sentir mais confortável falando, me salvou muito na viagem na hora de falar com a minha família peruana (que foi completamente caótica tanto quanto foi amorosa, acho que nem cabe no post) e também é uma prova de que pelo menos 1 movimentação pra fora da zona de conforto eu fiz.
3. Fui promovide. Finalmente, com muito custo, estresse e falta de comunicação. Mas fui, agora preciso retomar o foco, porque já estou com planos que exigem mais do que o novo salário que mal comecei a ganhar kkcry.
4. Fiz novos amigos, mesmo que no trabalho. O grupo de afinidade LGBTQ+ da empresa tá firme e forte e como esse ano passei a liderar junto com outra pessoa trans a situação de uma melhorada bizarra. Muita coisa legal aconteceu, fiquei feliz, me engajei, etc. E agora já tô que quase não aguento mais hahah. A liderança no grupo, não meus amigos, que fique claro.
Ainda não sei se é uma sobrecarga específica da posição de liderança, que por si só já é algo que eu desgosto, ou se é apenas o acúmulo rotineiro do fim de ano. Só sei que tô com vontade de jogar tudo pro alto. Chega de mais trabalho, ainda que tenha roupagem de coisa importante.
5. Fiquei em dúvida sobre colocar isso aqui, mas ruim ou não é um destaque. Perder o Cuca foi e é horrível. Passei a primeira metade do ano vivendo em função dele quase que exclusivamente e depois que ele foi embora eu só mergulhei em tudo e qualquer coisa porque nem meu cérebro tava conseguindo sustentar a situação, era como se nem tivesse acontecido.
Desde que voltei de viagem a falta e o desamparo tão batendo e eu tô tentando bastante lidar e sentir tudo. É só vazio.
6. Bom, não posso deixar de mencionar que eu estou num relacionamento?????? É, parece um salto gigantesco mencionar assim depois dos últimos 6 anos de silêncio. Pra não dizer que não aconteceu nada, eu tentei gostar do Giovani e tentei ver se algo rolaria com um dos meus amigos do trabalho. Particularmente, eu e migo do trabalho teríamos formado um casal incrível, mas ele gosta demais de mulheres padrão-alternativas, coitado. Saiu perdendo.
Voltando ao presente, estou namorando (???? juro muito esquisito escrever isso) com a Mara. Uma mulher trans italiana que eu conheci dando match no bumble quando viajava com o Higor em novembro do ano passado. Claro que quando eu dei match na época o interesse romântico era 2% e minha intenção era genuinamente indicar um podcast de D&D pra ela, porque achei que ela ia gostar e seria muito legal ter mais uma amizade trans, por que não?
Dessa indicação pra cá seguimos conversando, nos ligamos algumas vezes e estreitamos muito a amizade, até que comecei a planejar a viagem desse ano e as coisas mudaram de figura. Ela me falou que gostava de mim, pra que eu não fosse visitá-la sem saber disso e me sentir traíde chegando lá e, bem, naquela hora eu falei que achava ela uma gracinha, mas não sabia ainda onde isso ia dar já que depois do show de horrores que foram todas as minhas relações até agora, minhas emoções são racionalizadas só de piscar. Basicamente, desejar alguém há 2 continentes de distância parecia uma ideia péssima.
Corte para minha vida agora justamente nesta situação hahaha.
Bem, essa é uma história longa e cheia de pormenores, mas o resumo é que: a semana que passei com ela foi uma das mais importantes e restaurativas que eu tive na última década; ela é uma pessoa incrível e ao mesmo tempo, com pontos de ajuste que me preocupam muitíssimo; estou vivendo uma fofo relacionamento a distância (kkkkkk claramente sáfico) em que o único problema é que ele pode acabar a qualquer momento pois estamos num impasse a respeito de não monogamia.
É. 🤡
De início eu acreditei que seria capaz de finalmente entender e fazer essa dinâmica funcionar pra mim. Na teoria faz muito sentido, era algo que ela levantou e entendo muito considerando o fato de que Mara teve praticamente 0 experiência sexual/romântica e existir da maneira certa é algo que faz a gente querer viver tudo. Dito isso, quando chegou a hora de colocar em prática eu tive um chilique. Depois de muitos debates internos e externos, com amigas não-monogâmicas e mais, entendi que realmente não dá não. Expliquei isso pra ela, deixando claro que eu não tenho intenção de mudar nada, mas que se em algum momento ela encontrar alguém que faça sentido se relacionar romanticamente, é só me avisar e a gente passa pro status platônico. E é isso, um namoro que pode a qualquer momento ser revertido pra amizade, bem razoável.
Parte de mim acredita que talvez ela nem seja, de fato, não-monogâmica e que vai perceber o quão incrível eu sou e parar com esse papinho. Sei que é uma parte que serve apenas pra assoprar meu machucado, então não deixo que isso me iluda muito mais do que o necessário. Sei lá, tô deixando rolar.
É uma pessoa boa demais pra fechar a porta só por algo que nem tá acontecendo. E também é um relacionamento saudável e feliz demais pra eu não me permitir vivenciar. Sei lá, tô deixando rolar.
Como eu disse: uma história muito longa hahah.
Além disso ainda teve as várias partes da viagem, solo, com amigos, com minha família do Peru caótica, e mais o fato de que talvez eu inicie o aluguel do meu apartemento pro ano que vem ainda em novembro, mais tudo que isso implica... Não tenho condições de cobrir mais esse mundaréu de coisas.