A verdade é que eu estou cansada. Cansada de tudo isso, de toda essa mentira. Mentira por fora, por dentro, pelas paredes do meu apartamento e pelas paredes das minhas entranhas cheias de venenos que guardo em mim e a cada dia sinto o efeito.
Hora da verdade. Eu não odeio a Jackie. Eu tenho inveja dela.
Tenho inveja de como as pessoas não dão a mínima pras atitudes grotescas dela e além de sublimar seus defeitos ainda fazem questão de mantê-la por perto.
Tenho inveja de como ela não dá um puto em consideração a ninguém e as pessoas continuam a sua volta, por mais vidas que ela estrague, por maiores maldades que faça.
Tenho inveja do modo como ela orgulhosamente se mostra com todos os defeitos e o mundo ainda aplaude.
Que bela merda, não é mesmo?
Enquanto isso fico aqui. Nem sozinha estou, mas sinceramente gostaria bastante de que fosse o caso.
Giully chegou aqui dia 6 de Agosto e desde então tem me trazido mais aflição do que contrapartidas positivas.
Já é um momento delicado por si só. Estou pra me separar definitivamente de toda essa tralha que me foi imposta nesse ano.
A cena do Labirinto em que a Sarah explode a bolha de sabão do Baile de máscaras e se vê num lixão horroroso em que uma bruxa tenta ludibriá-la com "pseudo-confortos" numa ilusão feita de lixo do quarto dela e só então ela começa a se rebelar e perceber que tudo aquilo não passa de mera maquiagem e na verdade é uma grande desgraça? Pois é, essa é a minha vida agora.
Meus amigos não são meus amigos. Meu namorado não é meu namorado, isto é, não o suficiente. Afinal de contas, divido ele com a minha classe e meus """""amigos""""" e a classe 99, para quem estão reservados todos os momentos da vida dele. Eu fico com restos, óbvio. Nada mais justo.
É tudo uma grande encenação numa embalagem colorida e que agora estou finalmente me dando conta de que o conteúdo está mofado.
Pra melhorar só ter o único lugar em que posso ter paz invadido por uma outra pessoa com a qual nem sequer me entreteem a companhia.
Sinto muito que a Giully tenha essa experiência bosta do Canadá comigo. Somos muito diferentes e essa fase da minha vida realmente não é o momento pra "aproveitar a vida, fazer turismo e aprimorar amizades".
Eu não estou numa porra de um "comer, rezar e amar", sinto muito.
Não tenho um segundo sozinha sequer, nem pra cagar, porque ela não SAI DA MINHA CASA NUNCA.
Eu entendo, não a culpo, ela está de visita, não conhece o país, não quer sair pra passear sozinha. Mas apesar do meu lado racional, minha cabeça está enlouquecida e eu só quero poder chorar em paz na porta do meu quarto.
Em vez disso estou deitada num colchão de espuma no chão do meu enorme apartamento de 18m² escrevendo no escuro o que não posso urrar pro universo já que tenho que ser o mínimo da boa amiga possível.
Puta merda, eu não aprendo mesmo a não deixar as pessoas invadirem meu espaço, caralho, Camila você curte um masoquismo ein?
Pra passar a mesma coisa 3 vezes é foda.
Enfim, tá tudo uma bosta.
Vou fazer minha primeira tatuagem na quarta feira. Pelo menos alguma coisa pra salvar.
Só quero que isso acabe. Quero voltar pra minha casa e deixar esse mundo de goblins malditos pra trás no canto obscuro da minha mente, lembrado apenas em sessões de terapia.
Nunca foi tão difícil ter um amigo dormindo em casa. Nunca foi tão difícil esperar por um vôo de 16h.
Nunca foi tão difícil viver o que eu achava que era a viagem da minha vida.
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