22/11/2016
Gente que me estressa
Nossaaaaa, tô muito puto agora. Acabei de ler uma sinopse de um livro de feminismo radical em que a mulher fala um monde de porcaria sobre transgêneros e MINHA NOSSA, estou absurdamente puto com isso.
Vou até fazer um ctrl C ctrl V pra poder falar mais disso porque, senhor, quanto absurdo.
"It is only recently that transgenderism has been accepted as a disorder for
which treatment is available. In the 1990s, a political movement of transgender
activism coalesced to campaign for transgender rights. Considerable social,
political and legal changes are occurring in response and there is increasing
acceptance by governments and many other organisations and actors of the
legitimacy of these rights.
This provocative and controversial book explores the consequences
of these changes and offers a (radical) feminist perspective on the ideology and
practice of transgenderism, which the author sees as harmful. It explores the
effects of transgenderism on the lesbian and gay community, the partners
of people who transgender, children who are identified as transgender and
the people who transgender themselves, and argues that these are negative.
In doing so the book contends that the phennomenon is based upon sex
stereotyping, referred to as ‘gender’ – a conservative ideology that forms the foundation for women’s subordination. Gender Hurts argues for the abolition
of ‘gender’, which would remove the rationale for transgenderism.
This book will be of interest to scholars and students of political science,
(radical) feminism and feminist theory and gender studies."
Caralho né? Caralho.
Meu, não é destruindo a noção de gênero que você vai fazer a desigualdade entre criaturas cujas genitálias são diferentes desaparecer! Meu deus, é um esquema de opressão tão maior do que isso! E sim, de fato, espectros de gênero também se baseiam em símbolos genéricos de esteriótipos femininos ou masculinos, mas isso de forma alguma invalida as especificidades de cada pessoa e o seu modo de ser. "Sex stereotyping", faça-me o favor!! Se fosse pra ser assim a gente simplesmente se vestiria de acordo com o que se diz dentro dos padrões de cada gênero (isso numa noção já distorcida e vendável criada pela sociedade ocidental atual) e pronto, estaríamos todos felizes e contentes.
Só que nós pessoas trans sabemos que isso é muito mais profundo do que uma questão rasa como essa. Não diz respeito a esteriótipos e sim identidade, modo de se ver e querer ser visto como ser vivo.
Acabar com a noção de gênero é jogar no lixo não só a base de personalidade de trans, mas também de todos os demais. Não é como se isso tivesse sido instituído apenas para oprimir, é um conjunto de coisas que existem. Lógico que muitos mecanismos de opressão foram criados e fundaram seus alicerces nisso, sim isso é verdade, mas nem por isso apagar essa verdade fará de nós uma espécie livre de problemas.
O ponto está em destruir as formas nocivas de encaixotar as pessoas dentro do que se diz que é "feminino" ou "masculino" e permitir que as interpretações sejam livres e que o modo como as pessoas são lidas pela sociedade se adeque à auto-interpretação, mais do que a rotulação por terceiros. Gênero é uma noção de si mesma, que se compreende, adequa e se aceita conforme a necessidade do indivíduo em questão.
Além disso o foco real do problema não é em que se baseia um sistema de submissão e sim como ele é incutido na mente das pessoas. Se não for por gênero, é por etnia, se não por atributos físicos e por aí vai... As pessoas sempre encontram uma diferença e se apoiam nela pra conseguir se colocar num patamar superior, isso não vai mudar se deixarmos de nos identificar com uma ou outra coisa.
Ninguém chega pra gente e pergunta "ei, você não acha que ser menina é meio chato? Já pensou em ser um garoto?" A gente sente uma necessidade de se perceber. Sabe, é muito mais do que ter os atributos esteriotipizados de "homem" e "mulher", é se sentir diferente e compreender o que se quer ser e isso pode implicar ou não em mudanças físicas, vestimentas específicas ou qualquer outra atitude que demande mudanças.
Nossa, é tão difícil assim entender uma coisa dessas? Porque uns tem que procurar invalidar uma minoria pra conseguir provar o seu suposto ponto? Que coisa deprimente.
Olha, dá vontade de bater em quem compra uma coisa dessas, sinceramente falando. Lutamos tanto só pra aceitem que a gente existe e que nossa personalidade não é fruto de uma doença, é tão pouco e básico o que queremos e ainda tem gente que faz questão de colocar a gente como uma aberração ambulante. Nossa, que ódio.
Nossa... que dia cheio. Estava procurando um livro que se alinhasse mais as minhas ideias, mas por enquanto tô meio longe disso... A parte positiva é que me levou a muita reflexão sobre tudo isso.
Sabe, é algo que me intriga até agora porque só aos dezoito anos percebi como ser lido socialmente e ter características masculinas me faria imensamente realizado... Não mudou nem 1% da minha personalidade, continuo a mesma criatura feliz, viada e chatinha de sempre, mas de onde veio essa vontade? De onde veio a motivação pra querer fazer tantas mudanças externas?
Bem, não foi nada que alguém tenha me dito ou recomendado, certamente. Na verdade eu sabia muito pouco sobre não-binariedade e até bem pouco sobre a binariedade em si. Foi meio do nada, conforme fui vendo como as pessoas encontravam modos de serem elas mesmas sem se atentar e adequar as caixinhas impostas ao nascimento como símbolos femininos ou masculinos, acabei percebendo como isso seria algo que me contemplaria também. Acho que esse é um ponto: pra mim não foi desde o nascimento, o que implica em noções mais amplas do que "é intrínseco".
Mas o ponto é: isso é tudo construído? Mais ou menos, camiseta não é algo exclusivamente masculino e não tem problema nenhum uma garota cis se vestir na seção "masculina". A parte construída são os nomes e categorizações das coisas, mas isso é confortável até certo ponto. Até mesmo o modo de lidar com os acontecimentos é padronizado, sim admito e acho errado. Tem toda a carga de babaquice de "boys don't cry" e "women are fragile" etc etc, mas não é sobre isso que se trata, muito pelo contrário. Me considero uma pessoa bem chorosa, frágil e nem por isso menos "cara". Então, este não é um argumento válido sobre a construção de gênero, isso não é algo pelo qual a comunidade trans luta, ela quer se livrar disso também!
Outra coisa que é inegável é a (não sei se é pra todas as pessoas trans, tô pesquisando) necessidade de aderir a símbolos de gênero de acordo com a sua própria identificação. Não temos porque nos prender somente a uma ou outra caixinha, o que nos permite transpassar esses limites, mas ainda assim gostamos do que tem nas caixas então usamos a nosso favor. Ok, tem gente que curte tudo de uma caixa só e não se identifica com a outra, beleza olá pessoas binárias! Enquanto uns misturam, outros ficam bem com o que tem ou com o que escolhem de uma "fonte só". Tá, sem problemas aqui.
O que define um gênero, afinal? Bem, isso muda dependendo da cultura, nada é universal. São características variáveis e a ideia geral, o conjunto não torna ninguém mais ou menos opressor. Na verdade o que oprime, a meu ver, são seres humanos com problemas de personalidade. Independentemente de gênero ou genitália, são pessoas que buscam se sobrepor aos demais e usam do que estiver a mão para fazê-lo. Seja por atributos físicos, gênero, etnia, classe econômica ou social e por aí vai. Partindo desse princípio não culpabilizo apenas "homens" e sim pessoas que tem essa característica como um todo. Não nego que as "mulheres" tem sim um histórico de opressão, mas até nessa afirmação as coisas se complicam, pois tudo sempre requer um recorte e os grupos não sofrem os mesmos tipos de opressão nem mesmo na mesma época. Então assim, não dá pra generalizar nada nem ninguém. Homem trans é homem e nem por isso ele é imune à opressão sofrida enquanto ele era lido como mulher. É algo extremamente complexo.
Falei falei e parece que não disse nada concreto... Aparentemente isso é bem comum tratando desse assunto pelo que tenho lido por aí hahah.
Bom, acredito que as pessoas não saiam por aí fazendo cirurgias extremamente invasivas e tomando hormônios que as deixam deprimidas e com uma necessidade obrigatória de acompanhamento psicológico por nada, então assim: isso acontece, é legítimo e existe.
Sobre a questão de gênero ser algo ruim ou não: acho que as noções básicas são importantes pra que as pessoas sejam quem são. Uma vez eu discuti com um amigo sobre isso e fiquei pensando "num mundo sem gêneros, a pessoa simplesmente teria as características que quisesse e pronto... E daí, o que isso sigfnificaria pra ela? Nada." Isso me parece meio triste e vazio. Sabe, os símbolos teoricamente masculinos ou femininos podem ser usados por quaiser pessoas, elas se identificando ou não com os gêneros em questão. Homens cis podem usar brincos, saias, maquiagem e o que for que isso não faz deles menos homens. Acho que a questão é mais pra vontade de alguém ser identificado e se identificar como algo especifico, ou inespecífico. Então é isso, eu acho. Ainda não acredito ter falado muita coisa significante, mas vou tentar me informar e pesquisar mais pra poder ter um discurso melhor formado pra defender minhas verdades daqui pra frente. Porque né, o mundo tá cheio de gente querendo pisar nelas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário