Desde que eu voltei pro Brasil tenho me sentido parado no tempo. Vendo quem conviveu comigo no Canadá seguindo em frente, conquistando o que eu deveria ter, a vida em que eu queria ter existido.
Mas recentemente venho me percebendo. Enxergando melhor, reavaliando várias e várias coisas. E sabe, eu tô caminhando.
Estou construindo a minha vida, como ela deve ser preu existir de verdade.
Resolvi ir atrás do Kal, isto é ver sua conta no instagram (haha). Ele tá bem, aparentemente. Está vivendo em Ontario. A Jeremy continua com o Henry! Hahahah isso foi uma surpresa que, por mais engraçado e irônico que possa parecer, me veio como positiva.
É muito maluco como a cabeça das pessoas funciona. A minha é cada dia que passa um pouco menos misteriosa, mas ainda assim não deixa de ser curioso eu constatar que meu ex-namorado e uma ex grande amiga minha ainda estão juntos (e super bem!) e o conhecimento desse fato me deixar feliz e com um sorriso no rosto.
Eu não ressinto mais nenhum deles. O Henry foi apesar de todo abuso uma pessoa que me deu abrigo e comida em tempos em que eu provavelmente não seria capaz de me manter. Eu respeito muito isso. Pessoas são problemáticas e, claro, ele não era uma exceção, mas na época escolhi me manter nisso. Lembro claramente de dizer pra minha mãe por telefone “não vou terminar, porque vou ficar pior ainda”. Então foi uma relação oportunista dos dois lados, não é certo jogar apenas a integridade dele na lama.
E a Jeremy, bem, desde o início o sentimento que tive foi o de choque acima de tudo. Sempre admirei muito ela, mais do que deveria, dando um status de pedestal desnecessário. Ela era o que eu aspirava: formada, com dinheiro, bastante conhecimento em termos de artes visuais e (aparentemente) bem resolvida. Sabe, a gente tem um gap de 2 anos e olhando agora, vejo que se as minhas escolhas na época tivessem uma ordem ligeiramente diferente de como foram, muito provavelmente eu seria exatamente a versão Jeremy de mim.
Explico: se tivesse deixado para fazer a faculdade antes de viajar, eu seria 1) uma pessoa formada e 2) teria um repertório de conhecimentos em artes visuais e design muito mais desenvolvido, além de provavelmente maturidade por já ter atuado em um ambiente de trabalho. A parte de ser uma pessoa bem resolvida provavelmente eu não conseguiria dar o “check” 100% porque para isso seria necessária a conquista ainda por vir da adequação do meu corpo as minhas expectativas e necessidades. Mas ei, eu chegaria super perto! Se não fosse pela parte trans, a probabilidade de eu atingir o status “Jeremy” na vida seria até que bem simples. Então sabe, olho pra trás e vejo como ela era apenas uma pessoa comum. Um conjunto de aspirações que eu tinha tudo para realizar, mas escolhi brincar com a ordem de progresso da minha vida. E tudo bem.
Tirei ela do pedestal e hoje olho como alguém que merece felicidade e, poxa, se essa felicidade é capaz de melhor o Henry, uaaau vá em frente e siga com ela!! De uma forma que não sei bem explicar como, o saldo é positivo.
Até que enfim estou na subida da curva de progresso da terapia. Consegui até imaginar um momento da minha vida com alta (!!!). Cara, sabe quando em todos esses anos eu tive uma fagulha de incerteza a respeito da necessidade inerente de ter acompanhamento psicológico? Nunca! E aqui estou eu, numa nova era pós vislumbre dessa possibilidade!
É muito incrível hahah. Ser capaz de me imaginar tendo alta é como descobrir que tenho o que é preciso pra suportar a vida e, puta merda, isso é um sinal de avanço gigante.
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