18/07/2022

Ai, eu sei lá

As vezes eu fico tanto tempo pensando em escrever que, no fim, acho que já escrevi e quando vou ver foi só sonho.

Nesse meio tempo tive vários desses momentos, achando que tinha registrado um montão de coisas e descobrindo que não coloquei nadinha pra fora.

Ai ai. 

Assim como tem sido nas sessões de terapia, não sei direito por onde começar, a não ser pelo "ai ai" que é praxe. 

Bem, vou partir do último post, em que usei o conversor voz/texto e estava pertinho de receber alta da cirurgia. 

É engraçado porque ao mesmo tempo parece que já faz muito tempo e, dependendo do contexto, parece que foi ontem. Ainda preciso me lembrar de que posso fazer algumas coisas, como encostar no meu peito, porque eu não vou ficar triste, muito pelo contrário.

Uma coisa maravilhosa que descobri depois da cirurgia é como agora eu consigo sentir meu coração batendo forte. É uma sensação que nunca nem almejei nem nada, mas me emociona muito e me preenche com uma felicidade gigante.

Algumas vezes me percebo colocando expectativas estéticas sobre o meu corpo, algumas já conhecidas e outras novas, vindas do novo "estar no mundo", mas ainda assim não menos duras e problemáticas, totalmente desnecessárias. Minha barriga, meu pescoço, minha pele, meus pés, sempre aparece alguma coisa que me tira o foco de tudo que eu consegui pra mim e tudo que tenho pra amar. O exercício de se gostar ficou mais fácil, mas ainda tem coisa pra resolver, talvez pra sempre. Sei lá, é uma merda a gente se impor tanta coisa.

Voltando a falar de felicidades, minhas cicatrizes são uma caixinha de surpresas. Quando eu olho pra elas, me parecem muito mais clarinhas do que quando olho no espelho ou em fotos... Me pergunto o que exatamente é real, mas de todo modo elas sempre me surpreendem. Apesar de ter várias coisas que estão em constante mudança no meu corpo, desde cabelo crescendo à cicatrização de tatuagens, o branqueamento das cicatrizes é um processo tão longo que acaba me fazendo prestar muito mais atenção que o normal.

Acho que é como alguém que tem uma planta germinando, cada sinalzinho de desenvolvimento é um acontecimento. É a figura mais próxima que posso trazer como comparativo haha. De todo modo é uma coisa boa, mal posso esperar para quando completar 2 anos e o "resultado final" estar a mostra. 

Ainda me preocupo um pouco sobre deixá-las a mostra, tenho começado (muuuuuuuito lentamente) a tentar conhecer pessoas novas e esse é um ponto que fica surgindo no fundinho da minha mente. "será que não tá muito vermelho?" "eu preciso explicar alguma coisa?"

Sinceramente morro de vontade de poder ficar sem camisa num lugar seguro e compartilhar a imensidão de felicidade que eu sinto quando olho pra mim... Espero encontrar logo essa oportunidade
Sei que perdi uma grande chance não indo pra marcha trans (nem na parada), mas bem, ainda não cheguei no nível de desprendimento suficiente pra ir sozinho em nenhuma dessas coisas. Na parada eu até teria com quem ir, mas tava com suspeita de covid, então tive o bom senso de me resguardar (e proteger as pessoas de mim também, né).

Falando sobre isso me fez lembrar de que preciso colocar os coletes pós cirúrgicos a venda no enjoei. A situação financeira aqui em casa tá bem foda e qualquer coisa que traga um retorno é bem vinda. Faz tempo que pensei nisso, mas nunca conseguia parar pra me organizar. Ainda não consegui, só estou verbalizando aqui haha.

Indo de um assunto lindo para um sufocante, dinheiro é algo que eu sinto que estou lidando de forma bem caótica.

Como falei antes, tá complicado aqui em casa. Comprei um aparelho auditivo pra minha avó de 4 mil reais (sim, 4!!!!!) e para além disso gastei mais uns 2 mil com o Cuca no mês passado e ele deve voltar em agosto pro vet pra refazer os exames (ou seja, mais pelo menos mil reais indo embora)... Minha mãe também começou a tomar os remédios psiquiátricos dela e dei de presente de aniversário as primeiras caixas. E puta merda, como remédio psiquiátrico é caro, vai se foder. 

Todos esses gastos fiz com amor e faria de novo, mas a dificuldade não muda só porque era o certo a se fazer. O Sérgio fala bastante sobre isso comigo, sobre não ser desamor nem individualismo não usar os recursos que tenho pro meu futuro com pessoas adultas que podem fazer escolhas pra se cuidar e bem, ele está certo. 

Isso nem se aplica à minha mãe ao Cuca, claro. Porque pra minha mãe eu escolhi ajudar e, obviamente, eu escolhi ter o Cuca, a Kiwi e o Biscoito. Mas realmente, o estresse que a gente passa aqui em casa pra lidar com as finanças dos meus avós é algo que eu gostaria muito de evitar. Não era preu estar nesse rolo, saca? Mas minha mãe é a única filha que liga pros pais, então acabo sendo um apoio, até porque eu amo os meus avós, né? Então se não tem quem se preocupe na geração correta, acabo entrando de step. E de novo, não é porque é a coisa "certa" que não seja difícil ou desgastante. 

Na verdade é desgastante pra caralho. E por isso eu acho que acabo estourando. As vezes me sinto tão impotente e acorrentado a cuidar do futuro dos outros quando nem seria minha obrigação que me dá vontade de fazer idiotice de adolescente. Gastar com coisa idiota, com coisas que eu queria, mas que sei que não são prioridade. Na verdade, na hora essas coisas até parecem prioridade, porque se eu quero... porque não posso priorizar? 

É bem confuso, na real. Nestes últimos três meses devo ter gasto uns mil reais só em roupas. Pra mim isso é um total e completo absurdo, na real. Ok, eu comprei um monte de coisas, então não é como se tivesse um custo-benefício ruim, mas ainda assim M I L reais. Que loucura.

De fato, depois da cirurgia eu perdi quase todas as minhas camisetas e já tinha tempo que precisava de umas coisas, mas sinto que podia ter feito menos compras. Só que é isso, na hora me dá um estalo de "foda-se todo mundo eu vou comprar alguma coisa pra me agradar porque senão vou morrer nessa merda sem nem ter me cuidado" e cara, que pensamento mais juvenil, puta merda hahaha. Mas é como me sinto e quando vou ver, fui lá e fiz, não tem retorno.

Acho que se fossem só essas compras nem teria tanto problema, o ruim é o conjunto da obra mesmo. Meu cartão de crédito fechou em quase três mil reais e isso me assusta bastante (aí dentro tem minha mensalidade da faculdade e gastos com vet + remédios, tá? falando pra apaziguar minha própria consciência haha). Vai começar a ficar em menos de mil reais só a partir de novembro e é surreal como isso tá acontecendo. Parece que outra pessoa invadiu a minha vida e teve um surto consumista, sabe? Eu nunca fiz nada parecido, então tô tentando aprender como navegar nesse mundo adulto em que "se agradar" muitas vezes significa "gastar".

Sei lá, isso tudo de lidar com dinheiro é muito bizarro. Acho que juntei por tempo demais e não aprendi a lidar com um fluxo corriqueiro de entradas e saídas. Tudo me apavora e sinto que tô saindo de controle. Talvez eu até esteja mesmo, não sei até onde o medo é descabido ou coerente... Sei lá, de novo.

Chega de falar de coisas sufocantes.

Hahaha, assim que escrevi isso me veio que "se é assim não vou nem mencionar meu trabalho aqui". Pois foi um pensamento muito acertado, não vou deixar o resto desse post afundar com coisas que sequer me preenchem.

Bem, então tá. Vamos falar de coisas edificantes ✨


Não tinha como não colocar o meme do galo "fofoca?" depois de escrever edificante hahah. Eu amo esse galo, a patinha dele segurando a jarra é tudo pra mim.

Enfim, voltando a nossa programação normal ahah. 

É meus amigos... E não é que meu hábito de ler mangás segue firme e forte? 

Sinceramente, se não fossem os BLs fofos que tenho lido nos últimos anos, não sei o que teria sido da minha estabilidade emocional. Pra coroar minha felicidade recente, o MAL recentemente lançou (na verdade deve ter faz mó cota, mas eu demorei a perceber) uma ferramenta que deixa você fazer listas de mangás/animes com categorização personalizada e, minha nossa, como esperei por este momento!!!

Conseguir catalogar meus mangás preferidos é algo que tenho vontade há tempos e, enfim, ver tudo organizadinho me deixa bem feliz. A felicidade está nas pequenas coisas, SIM.

Pra além da catalogação, realmente tenho lido muita coisa boa nos últimos tempos. Até é algo que me deixa com a mão coçando pra fazer logo minha retrospectiva de 2021, porque nela quero colocar uns mangás e webcomics que li no ano passado. 

Sim, ainda pretendo fazer a retrospectiva, mesmo que estejamos avançando já o segundo semestre de 2022. Foda-se, eu que mando aqui.

 Mas é, tudo isso pra enaltecer que tô lendo coisas bem boas e/ou fofas. Isso é um ponto que ao mesmo tempo que me deixa com o coração cheinho de algodão me dá uma sensação de falta as vezes. Falta de 1. pessoas pra compartilhar essas belezinhas e 2. de uma história romântica pra chamar de minha kkcry.

Sim, o bichinho do "Grande Talvez" voltou a me morder e, especialmente depois da cirurgia, minha impaciência pra viver um relacionamento tem crescido. 

Inclusive, até instalei o Bumble deve ter uns 2 meses já e venho tentando ver se encontro pessoas que me deem vontade de conversar. Na real, embora eu ache o app bem legal e prafrentex, o lance de pessoas não binárias, assim como mulheres, ter que dar o primeiro passo me dá um tanto de ansiedade haha. 

Claro que não é só isso que me deixa meio a flor da pele com toda essa situação de tentar conhecer gente nova, também tem o fator: eu realmente vou precisar conhecer essas pessoas e muitas delas não serão o que espero e isso me estressaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.

Sério, na real acho que quase tudo me estressa nesse tópico. Quando eu encontro o perfil de alguém que acho interessante me bate um nervoso e eu fico tentando achar formas do app atualizar pra pessoa sumir (????) e eu poder seguir com os "nãos" sem apostar numa possível conexão por quem tive interesse. Por que???? Pois é, também não encontrei uma resposta que faça sentido ainda. Medo de dar errado, medo de dar certo, tudo junto e misturado.

Haaa, descobri que odeio essa parte de "conhecer". Queria poder pular direto pra uma relação estável e morninha, já dentro da rotina e hábitos, sabe? 

Novidade definitivamente não é comigo haha. 

Vou contar minhas experiências até o momento, já que elas são breves.

Primeiro, tive alguns vácuos, para os quais eu não estava preparado, sério. Passei mó nervoso pra nada, que ódio hahah.

Passei tanto tempo decidindo se ia dar "sim" pra pessoa, sabe? Daí ainda por cima tive que tomar coragem pra puxar assunto e... Nada... Conexão expirada. Vai se foder, cara.

Sei que ninguém tem nada com a minha angústia autogerada, mas mesmo assim, que saco hahah.


Além desses vácuos, comecei a falar com 2 pessoas, um era professor de física e apaixonado por astronomia e os gatos dele e o outro é um menino ecossocialista que desde o início eu soube que nunca quereria beijar e sim, apenas criar uma amizade, pois: primeira pessoa ecossocialista ao meu alcanceeeeee 🥺🥺 por favor vamos ser migos, quem precisa beijar bocas #salivasuperestimada.

No fim da semana passada o professor de física me deixou no vácuo então acabou por aí. Sinto que ele me fez um favor, sinceramente. Até que podia ser alguém legal, mas senti que tínhamos energias muito diferentes. Eu escrevia horrores e ele respondia com 2 palavras ou "hmmm". Que desperdício do meu tempo e empolgação, sabe? 

Total sem ressentimentos.

O Gregs, meu amigo ecossocialista não monogâmico (apesar de eu achar que a não monogamia é uma parada super embasada e tal, mesmo que eu ainda não tenha chegado lá, gente que se define "não-mono" me dá um irkzinho, mas ele também sente isso então tá desculpado haha) é ótimo. 
A gente tem conversado bastante com áudios longos sobre várias coisas e mesmo mandando 8min ele escuta tudo no 1x e é uma pessoa super receptiva. É alguém que quero como amigo mesmo, até saímos esse domingo.

Acho que devo ter confundido um bocado a cabeça dele, já que a gente saiu e teoricamente seria um encontro, mas eu não conseguia encarar aquilo como nada além de uma saída com amigos, então não rolou um nadinha de clima e no fim fui embora na maior paz. Mas sei lá, ele também não fez nada que me desse a entender que queria alguma coisa. Talvez ele ache que sou demisexual? 
Bom, ele tem outras pessoas com quem conversa, então estou contando com esse pessoal aí pra preencher a parte romântica da vida dele, além da parceira de relacionamento principal dele. Que eles cuidem dessa parte enquanto aproveito minha amizade hahah. 

Em algum momento acho que vamos ter que conversar sobre isso, mas não sei como trazer esse assunto pra mesa. É uma merda como sempre acabo ficando com coisa entalada na garganta quando se trata de vocalizar necessidades.

Eu achava que depois de toda porcaria que passei por falta de comunicação e ignorar minhas vontades eu teria aprendido a lição, mas parece que continuo com tanto medo quanto antes. Ai ai, preciso falar disso com o Sérgio.

É, por enquanto é isso desse assunto. Preciso tomar coragem pra dar mais "sim" nas pessoas que talvez tenham potencial de serem legais. Levar como exemplo o prof. de física que deu um fim a nossa quase-alguma-coisa sem futuro, pensar que não é pra ser algo tão pesado e que tá tudo bem não ser um turbilhão de cara e tá tudo bem também se depois eu não quiser nada. 

Mais fácil falar que fazer, quero só ver.


Tenho mais coisas pra falar, mas esse post já está grandão. Finalizo por aqui...

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Nath, passando pra te dar um recadinho de rodapé e reforçar como te amo infinito 🧡. Só consegui ler seu último post no final de semana e tudo que posso dizer é que desejo todos os dias que o melhor do mundo preencha os seus dias e que você tenha trilhões de dias ensolarados pela frente. 
Sei que as coisas não estão fáceis e que a perspectiva de tudo pesar menos ainda não está despontando no seu horizonte, mas ela existe e vai chegar.

Enfim, você é uma existência essencial na minha vida e me deixa feliz só de saber que você existe então, sempre que puder cuide de você e se abrace enquanto eu não posso. Claro que quero que você faça tudo isso por você mesma, mas quando for difícil demais ter essa motivação, pode usar a minha se de alguma forma te ajudar a se manter mais tempo aqui. Te amo muito mesmo.

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