Cante tua alma

“Eu quero parar de respirar; eu quero parar de crescer; eu; eu; eu só quero que pare; tudo, nada, que o amanhã não apareça pra me dizer que mais um dia se foi e que nada me fez feliz;

Quero que pare; pare de me fazer sofrer; de me fazer querer o que não devo; quero parar de ser eu; “

Disse a criança, já tão cedo cheia de cicatrizes na alma, cheia de feridas e dores sentidas quase que duma vez só. E então, um doce e velho beija-flor respondeu com toda a sabedoria que só poderia vir de um ser já tão vivido como aquele que havia parado para escutar os lamentos da pequena:

Uma pena não é mesmo? Tão jovem tão perdida, tão só. Mentira, só não estais. Menina de pouca fé que se faz sozinha mesmo tendo tanto amor a ser recebido das almas queridas. Por que fazes isto? Ó vã doce criatura. Nada tens a temer, nada tens que dar em troca de tua vida. Vá e sê feliz, joga-te em meio aos desatinos da vida e canta, canta toda a tua agonia; teus infortúnios e mais importante de tudo; cante a ti mesma, tua alma e veja se canta direito, porque quanto estiveres já desgastada e a finitude bater a tua porta, irei te buscar com uma coroa de flores, pra deixar ainda o gostinho das tuas canções; dos seus versos tão cheios de vida, de morte e de ti.

Vá e sê menina. Qualquer uma,  com qualquer sonho, qualquer palavra que queira; Só viva e não mais praguejes pra este mundo, pois é aqui que aqueles que te aquecem o coração vivem também.

Sei que tu andas meio romântica. A procura do seu real lócus horrendus, mas nada se pode fazer quando se tem medo de escuro e nem poetisa do mal do século se consegue ser.

Já que é assim, tenta outra coisa. Não desiste, não. Tens mais de milhões;  trilhões de chances de fracassar. O fracasso em si é um sucesso pra todos aqueles que progridem por meio da dor. E tu és  dessas, não é mesmo?

Sofres com tanto vigor, com uma paixão quase sacra; Oh e como isso faz de ti bela, menina. Não sabe como, não, não sabe!

Bela e melancólica és tu! A estrela menos brilhante e a que mais encanta. A estrela que lembra a todos nós que é no sofrimento que encontramos a luz.

De Deus? Não sei. Devo eu perguntar-te. Que luz é essa? Que só os sofredores hão de encontrar? E que só eles hão de abraçar no fim de todos os dias?